A Educação em Macau

Houve um período, ainda recente em que, a imagem de Macau foi vendida no exterior com o slogan: – “Cidade de Cultura”.

Naturalmente que o slogan não significava nada. Macau era antes, isso sim, a cidade do jogo, como sempre foi. Isto, independentemente de a cultura ter sempre existido aqui, como em qualquer parte do Mundo.

Mas politicamente convinha, então, ignorar, ou menorizar esse facto.

Depois da transferência esse anómalo slogan felizmente que foi abolido e o jogo desenvolveu-se sem complexos.

Mas com o desenvolvimento do jogo, em maior, ou menor grau, a cultura também se desenvolveu.

Os incentivos à educação expandiram-se, surgiu um politécnico e estão em actividades várias universidades.

Com tudo isto e com o que falta e que é muito, Macau está no bom caminho para um dia retomar o slogan que acabei de falar.

No entanto se nos anos 90 do século XX, Macau não era uma cidade de cultura, a verdade é que o foi muito tempo antes e de um modo brilhantemente pioneiro.

Refiro-me evidentemente ao chamado Colégio de S. Paulo, fundado pelos jesuítas por volta do ano de 1593.

Foi a primeira universidade do Extremo Oriente.

A história do Colégio de S. Paulo, é tão brilhante como fugaz foi a sua existência e inglório o seu fim.

Quem nos conta como foi é o Padre Manuel Teixeira, neste livro que intitulou: – A Educação em Macau.

Aqui o historiador para além dos pormenores sobre o Colégio de S. Paulo aborda o que foi este sector da vida de Macau ao longo dos séculos e conta-nos uma história pouco simpática depois da expulsão dos jesuítas.

Houve períodos em que pode dizer-se que a educação institucionalizada esteve mesmo completamente ausente e outros em que andou nas mãos de quem não tinha a mínima competência.

Tudo isto perante um quase permanente alheamento do estado, que pouco cuidou durante os séculos de tão importante sector.

Vale a pena citar esta passagem referente à escola pública que o Padre Teixeira reproduz neste livro citando um ouvidor de Macau: –

Com a expulsão dos jesuítas em 1762 não houve mais uma cadeira de latinidade, nenhuma de moral, ou teologia. Quem quis aprender foi a Manila, alguns para Goa e outros a quem os meios faltavam ficaram aqui, ouvindo lições de algum clérigo antigo.

O professor régio com ordenado de 500 taeis, ainda não formou um só estudante bom. As religiosas não dão aulas, nem estes conventos têm mestres.

Era assim que o Juiz Lázaro Ferreira (ouvidor) caracterizava a educação em Macau em 1784.

Ensinar música, por exemplo era chão que tinha dado uvas como se costuma dizer, pois se não havia lugar para as primeiras letras como haveria de haver para as artes.

Mas depois disso a situação melhorou, mas não muito.

Triste história, portanto que vale a pena ler aqui neste livro, publicado em 1981, pela Direcção dos Serviços de Educação e que ainda se pode encontrar, creio eu, na Livraria Portuguesa.

Vale pena dar uma vista de olhos por esta obra condensada e lamentar o que foi.

Felizmente que a história às vezes não se repete, pelo menos quando os que têm obrigação de decidir, conhecem alguma coisa do passado.

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